Práticas religiosas e circulação de mediadores no Medievo
Organizadoras:
Profa. Dra. Maria Cristina Correia Leandro Pereira (Universidade de São Paulo)
Dra. Aline Benvegnú dos Santos (Université de Rennes 2)
Apresentação:
É impossível dissociar aquilo que denominamos como “religião” na Idade Média de suas práticas e do contexto institucional e social que as produzia e no qual circulavam. Objetos, disputas políticas, relações comerciais, por exemplo, estavam entrelaçados a orações, a imagens devocionais, ou, ao menos, à expectativa de um desfecho positivo no post-mortem. A presença cotidiana desses mediadores – materiais ou imateriais – não deve, porém, implicar em uma leitura do Medievo que o entenda como um “tempo de fé”, homogêneo, desprovido de nuances nas práticas religiosas: ao contrário, estas eram permeadas por gradações em seu exercício e pela inventividade de seus agentes, sejam eles indivíduos, coletividades ou instituições. Distante daquela visão estanque, pois, a historiografia que discute os fenômenos religiosos na Idade Média tem, nas últimas décadas, procurado analisar as dinâmicas estabelecidas entre homens e mulheres medievais e o sobrenatural em uma perspectiva que recupere as relações entre as práticas religiosas e as demais dinâmicas sociais.
Ao estudo das relações entre as práticas religiosas e outros domínios deve-se somar um novo desafio posto pela historiografia recente: o estudo dos fenômenos de circulação/conexão, envolvendo a percepção de povos, doenças, objetos, mercadorias, etc., como elementos que, ao circularem, se metamorfoseiam e influenciam os seus espaços de presença. Compreender a esfera religiosa como meio de circulação comporta a análise da transformação dessas práticas em uma perspectiva georreferenciada, na qual não existe apenas um diálogo vertical com Deus – que, por sua vez, é também um produto e agente de circulação –, mas uma presença geográfica e horizontalizada dos atores das práticas de fé.
O presente dossiê busca, portanto, agregar estudos que relacionem o estudo de práticas religiosas com a circulação de pessoas, objetos, crenças e dos próprios agentes divinos na Idade Média, jogando luz sobre a influência das práticas religiosas nas dinâmicas de conexão/circulação no Medievo. Desde a circulação de modelos hagiográficos à disseminação de devoções, do deslocamento de profissionais das práticas religiosas à descida dos atores sobrenaturais na Terra, esperamos, através dos estudos de caso, oferecer um exercício de mapeamento das dinâmicas de circulação religiosa, tendo como eixo tanto a circulação horizontal entre homens e mulheres quanto a relação dialógica estabelecida nas dinâmicas de ascese entre os devotos e seus entes de devoção.
Serão aceitos artigos cujos temas dialoguem com alguma das seguintes temáticas:
- Trânsito de objetos, imagens, relíquias e corpos;
- Disseminação geográfica de cultos, hagiografias e devoções particulares;
- Circulação de topoi hagiográficos e motivos iconográficos;
- Análise dos modos de funcionamento dos contatos com o Além: práticas de ascese, êxtase, sonhos, aparições, comunicação com o sagrado, viagens ao Além, etc.;
- Contato entre dinâmicas religiosas diversas e convívio entre diferentes culturas.
A proposta de dossiê se insere no âmbito das atividades realizadas pelo Projeto Temático “Uma história conectada da Idade Média: comunicação e circulação a partir do Mediterrâneo” (Processo FAPESP 21/02912-3) e busca agregar não apenas artigos produzidos pelos pesquisadores vinculados ao projeto, mas expandir a rede para outros colaboradores, tanto brasileiros como estrangeiros.
Prazo de submissão: 30 de outubro de 2024 (prorrogado!)
Previsão de publicação: dezembro de 2024
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