Anatomia, autópsias e a Igreja

Fontes e debates a respeito da prática médica post mortem na Idade Média

Autores

  • Mauricio Ribeiro Damaceno Universidade Federal de Mato Grosso

Palavras-chave:

Igreja, dissecação, Idade Média

Resumo

Resumo: Ao examinarmos a relação entre a Igreja e as práticas anatômicas na Idade Média, constatamos uma realidade complexa e multifacetada. Nesse contexto, a afirmação do historiador da ciência Ronald Numbers, de que a Igreja não pode ser vista exclusivamente como vilã das ciências naturais, se confirma. Em certos momentos, a Igreja pareceu utilizar a prática de dissecações para confirmar a santidade de alguns e a inocência de outros. As dissecações ocorreram em uma variedade de locais e períodos, tanto sob a influência eclesiástica quanto fora dela. As bulas e decretos emitidos pela Igreja concentraram-se mais em proibições específicas, como o desmembramento de corpos, do que na regulamentação de autópsias legais ou educacionais. Dessa forma, teorias antigas puderam coexistir com novas abordagens desenvolvidas por estudiosos cristãos, árabes, muçulmanos e judeus. É sobre esse contexto diverso que trataremos neste artigo.

Biografia do Autor

Mauricio Ribeiro Damaceno, Universidade Federal de Mato Grosso

É professor efetivo de História (D-003) pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC-MT). Formador de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela Diretoria Regional de Educação de Barra do Garças (DRE-BGA). Possui Graduação em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG); é Especialista em Ensino de História pela Faculdade Única de Ipatinga-MG (FUNIP); Especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica também pela FUNIP; Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e Doutorando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atua em temas como Baixa Idade Média, História da Medicina, cirurgia, anatomia e farmacologia antiga e medieval; tratamentos nos campos de batalhas, concepção do corpo e ensino no medievo. É membro do Vivarium - UFMT (Laboratório de Estudos da Antiguidade, Medievo e Modernidade).

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Publicado

30-06-2025

Edição

Seção

Artigos